26 de outubro de 2012

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Sabe,
Muitas pessoas vão escrever sobre o Tatata Pimentel, e acho que nem se todo o estado o fizesse, seria suficiente. Vou contar um pouco da minha parte.
Fiquei sabendo pelo twitter, e achei que fosse alguma sacanagem, dois minutos depois a primeira mensagem. Penso, vai ser igual a minha vó, simplesmente não vai morrer, porque é tão forte em mim que é como sempre estivesse existindo.

A minha última foi aqui no Rio, mais ou menos um ano atrás, no aeroporto. Fiquei puta e briguei com ele: Como ousava passar por aqui sem conhecer minha mansão na Barra da Tijuca!  Sim, a gente fazia questão de brigar só por coisas idiotas, como se fosse uma coreografia pra nos entreter e depois cair na gargalhada. A gente nunca brigava, ele me achava inteligente e levava em consideração o que dizia.. (imagina se eu não sinto orgulho ENORME de mim mesma por isto..HAHAHHA!)
Foram 3 anos, diz que fui a pessoa que mais tempo aguentou ele. Teria aguentado mais se não fosse uma proposta tentadora. E vieram outras joices, outras marions, thiagos...

O episódio do Sofazão foi maravilhoso. Eu queria porque queria fazer um programa inteiro no Sofazão, imagina se ele não comprou a ideia. Pra quem não sabe é uma casa de swing, onde fica todo mundo pelado, transando e outros assistindo (com todo respeito). Lembro só do dono do sofazão (um ex-padre) nos convidando pra comer uma galinhada no meio da gravação. Nós, os peladões, as galinhas...e o tatata lógico saiu de fininho na hora da janta! FILHA DA PUTA! Diga-se de passagem o programa ficou excelente, todo trabalhado na música clássica.. deviam reprisar.

Sair pra jantar com o tatata era uma epopeia. Porque se passava horas gravando, depois calmamente sentava, abria os trabalhos com um whisky, entradas, saladas, primeiro prato, segundo, principal, sobremesa, chá, cafezinho, licor, charuto e mais duas horas de conversa todos os dias!!!!!!! E eu levantando às 7h da manhã pra editar na TV. Era uma insone cheia de olheiras bem feliz. Lembro uma vez de ter jantado com a Hanna Schygulla, de quem simplesmente tinha visto todos os filmes...o vidinha..
Na verdade está foi a parte sórdida da relação, porque depois as noitadas terminaram,  e conheci o amigo. Na verdade pra mim ele era Freud. Não só porque sabia tudo de Freud mas porque dava explicações descabidas dos meus sonhos. Mesmo as ideias mais mirabolantes (e eram muitas), tinham uma lógica louca!!

Depois da gente ter trabalhado junto, lembro de sempre ligar pra ele. Quando viajava, comprava aqueles cartões telefônicos infindáveis só pra jogar conversa fora. Lembro de estar perdida em Nova York: Liguei...disse a rua que estava, e ele me deu a direção certa. Só um detalhe.. ele nunca tinha estado em Nova York, odiava os Estados Unidos (ou dizia que odiava),  Mas nem isto era razão suficiente pra não decorar o mapa. E foi assim em Athenas, Istambul, Cairo etc, etc...
Eu revirava as lojas de discos atrás de presentes pra ele, era quase uma gincana, porque obviamente era discos raros. Ele tinha tudo e todos! Desde que a gente se conheceu, tenho espalhados pela minha casa Buda, anéis, tapete.....mimos do Tatata.

Cara, como eu lamento. Lamento que mais pessoas não tenham sido influenciadas por ele, lamento que mais pessoas não tenham dito como ele é genial, e logicamente ele não teria sido nada econômico ao ressaltar como isto era verdade. Fazia parte do pacote, mas posso lhe garantir que valia a pena comprar o pacote inteiro. Nele nada era pequeno.
Digo que pra determinadas profissões é necessário um talento muito especial, como enfermeiro, sonoplasta, professores...Não conheço ninguém que gostasse de ensinar mais do que ele, e de aprender mais do que tudo! Passava as madrugadas lendo e ouvindo ópera, tinha estante de livros até na cozinha! Fico imaginando pra onde vão estes livros e discos! Queria que continuassem juntos, com o nome dele em algum lugar. Nunca entendi como o apartamento dele nunca despencou pelo peso..

Tantas e tantas vezes disse: Tatata escreve um livro, conta as tuas Histórias Porra!! E ele,  o maior leitor que conheci, nunca escreveu um livro...dane-se, a feira do livro deveria fazer uma menção a ele: O maior leitor de todos os tempos.
Vão se passar muitos anos, eu indo a Porto Alegre pensando em dar uma passadinha pra ver ele...não acho isto ruim, cada um digere como achar melhor.

Prefiro pensar nele como nome de rua: Que seja num lugar bem chique, cheio de gente, que passem carros, que tenham putas e veados, sim ele iria adorar. Se bem que ele combinava com qualquer lugar...