27 de março de 2011

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Hoje, apesar do dia lindo que faz aqui, fico na cama curando nariz entupido.. DOMINGO tem coisas bizarras na TV, tentativa de modernismos, e apresentadores que definitivamente não são o Chacrinha.

Ontem, teve uma pequena reunião involuntária de librianos. Conclusão, gostamos de pensar. Não é de propósito, mas por necessidade de tentar manter a famosa balança equilibrada. Alguém diz assim: Não procura explicação pra tudo, porque nem sempre existem. Ok, mas o que tiver explicação quero buscar. Como ver um sundae a dois palmos de distância, e sempre que está se aproximando, escapa. Rá!! To rindo, é assim mesmo.

Acabei lembrando de uma história que fez parte da minha vida, e me acompanha até hoje de outra forma.

Dos 6 aos 16 anos veraneava na mesma praia com o mesmo grupo de famílias. Primeiro numa barraca, depois em casinhas calculadamente construídas lado a lado. Se formou uma espécie de aldeia, no sentido de grupo. Os pais eram amigos, os filhos da mesma idade também, etc etc etc...se faziam reuniões, confraternizações, jogos, times, churrascadas, conflitos.

Meu conflito particular era de não me enquadrar em nenhum grupo. Enquanto as gurias da minha idade queriam se por bonitas e faceiras, eu queria jogar roleta. Elas queriam trocar confidências, e eu brincar de detetive, elas tomavam banho de sol e eu pegava jacaré...sempre tive vocação pra me divertir. E sinceramente achava um tanto enfadonha a vidinha de lady.

Nesta época fui uma espécie de líder de uma gangue de gurizis bem mais novos que eu. Só eles tinham fôlego pra topar as minhas paradas. Não se cansavam de jogar 7 e meio a dinheiro, fabricar planondas, fazer expedições pelo deserto, campeonatos mundiais de vôlei etc etc etc..

Eis que chegou o dia em que a garota também queria virar mocinha. Não como aquelas que segregavam, mas de outra forma. Precisava achar parceria pra isto, e aconteceu.

Foi numa daquelas tardes nubladas de Imbé, onde só passava vendedor de biscoito amanteigado e puxa-puxa, que vi uma tipa nariz empinado zunindo pelas ruas esburacas numa MOBILETE. Nossa!!! Lembro de sentir certa inveja da mobilete. Enquanto eu tinha que pegar emprestada a monareta do meu irmão, ou caloi 10? Ou a Cesi da minha mãe? A verdade é que eu não tinha nem uma bicicleta pra chamar de minha (nota familiar: Porque não ganhei uma bicicleta?).

Os torneios de vôlei nos aproximaram, e o fato dela ser desde os 13 perdidamente apaixonada pelo meu irmão ajudou. Pouco a pouco me vi montada na mobilete freqüentando lugares longínquos de imbé, ou pelos dindinhos de Tramandaí com a minha inseparável e aventureira amiga, que gentilmente colocamos o codinome Megue (que ela odeia, mas não posso mudar a história).

Sim, foi ela que me tornou aceita. Fazendo parte de um grupo, na nossa distante adolescência. E por obra do destino, alguns anos mais tarde, acabou se tornando minha cunhada (Nossos planos de enlace com o meu brother funcionaram!).

Bom, na verdade, é uma bela história, e fiz aqui a versão bem reduzida. Tudo isto pra dizer que os anos passaram, e que continuo não sendo aquela menina que troca o cabeleireiro pelas aventuras da vida. Apesar de fazer as unhas e o cabelo com relativa freqüência, não sou a pessoa padrão, filosofo demais, fico emburrada e feliz com a mesma facilidade. A meu favor tem o fato de não julgar pelas aparências. E é claro, muitos continuam me vendo como um bicho misterioso e esquisito..e o que não é padrão, nem sempre é aceito.

Enfim, quem fica de escanteio, ou desiste ou aprende a fazer gol olímpico! Sim, ainda tá faltando eu me sentir parte disto aqui.

(tô treinando o tal gol olímpico)

21 de março de 2011

265

Hábitos estranhos como fazer a sobrancelha nos sinais fechados que me levam até o trabalho. Me dá aflição não ter uma pinça decente ao alcance da mão.

Hábitos como beber uma dose todos os dias. É o sinal de que chegou à hora de relaxar. Passei do vinho tinto, pra Miller, depois Stella, Dos Equis. Uma dose só, vendo a paisagem da noite chegando.

Hábitos como escrever depois da lua cheia, quando parte uma dose de conflitos que voltarão, sim, na próxima lua cheia.

Hábitos como ligar pra casa as segundas e não aos domingos. Porque as segundas são cheias de esperanças, de começos e resoluções, os domingos são como um final. E quero sempre recomeçar.

Hábitos como dormir com o celular na tomada, um travesseiro pra abraçar, granola pra acordar, uma cachorra pra passear, e sair conferindo se não esqueci o gás aberto.

Não acordo de sopetão, acordar e dormir são momentos muito especiais pra se fazer correndo. O que é bom se faz com calma, sem pressa, antes e depois.

Como não me cansar das mesmas pessoas. Hábito das descobertas.

Tenho dificuldade em lembrar palavras como chicote, Windsor e ..aquela coisinha que se come pra limpar o paladar na comida japonesa...que obviamente não me vem agora.

Compro pelas marcas, pela fidelidade, pelo que me lembram. Tenho sempre uma boa garrafa de vinho tinto e champagne escondida em casa. Assim como minha escova elétrica, tomate orgânico, ricota, pão integral, um vasinho de manjericão, alecrim e uma flor rosa.

Tenho vários momentos escondidos em pensamento. Porque acordada acho que estão tão longes que não existiram. E se só eu sei, como são estes sonhos entre dormir e o amanhecer.

Tenho o hábito de me criticar, porque é uma das formas de ser humana. De encontrar meus erros, mais do que os acertos. É minha auto penitência, que me cobra tanto.

E então..Vou estar distraída, vou esquecer coisas óbvias, vários nomes e sobrenomes, muitas histórias que me pediram segredo. Mas vou lembrar todas as sensações.

Bebi o último gole da minha cervejinha. Não vou escolher os socialmente aceitos, ricos...mais mais...se for preciso escolher, vou preterir o conhecimento pela garra, a inteligência pela sensibilidade.

Vou escolher pelas capacidades particulares..não tão óbvias assim, e muito menos...racionais.

9 de março de 2011

264

Já passei muitos carnavais..

Com 20 anos fui pra Itália pela primeira vez, muito pouca grana e o ap da minha irmã em Roma. Resolvi gastar a graninha entre Firenze e Veneza, sozinha.

Cheguei numa noite fria de Carnaval veneziano. Andar de vaporetto vendo a cidade teria bastado. No carnaval então ...foi uma das cenas mais belas do filme da minha vida. Veneza é a cidade mais emocionante que conheci.

Da outra vez foi em Parintins, no meio da Amazônia. Viajei com um canivete suíço e cobertor térmico, se o avião caísse....rsrsrsr..muito louco. Os carros alegóricos mais absurdos que já tinha visto, no meio da selva. O carnaval mais exótico de todos..babei. este sim deveria ser consumido a rodo pelos gringos.

Meu terceiro carnaval memorável foi na última segunda, quando a Salgueiro entrou. O camarote ficava bem na frente dos jurados, um espetáculo. Passa na avenida o abre alas enorme, com uma escadaria apinhada de sapatiadores. Amo sapatiado, não esperava por isto. O choro só passou depois da bateria. Memorável.

Desfilar no Bicampeonato da Beija flor conseguiu ser uma emoção menor na comparação. Não procuro todas as experiências, só as únicas. Vou ser uma velhinha de poucas e grandes histórias pra contar, mesmo que..... não goste de carnaval. Sou realmente uma pessoa estranha.

4 de março de 2011

263

Aprendizado, no caso o meu.

Sempre julguei (sim a gente julga) que a geração que veio atrás da minha, nunca soube lutar. Pensar a longo prazo, médio prazo, qualquer coisa que não fosse agora!

Sim, sempre julguei que a geração que veio só se preocupava com prazeres imediatos. Incapazes de elaborar um objetivo e começar a planejá-lo antes. Achei que era falta de garra, de vontade. Basta pedir da forma certa, com um beicinho ou um sorriso no momento certo.

Ontem alguém me disse: Joice não é isto, eles simplesmente não foram treinados, simplesmente desconhecem.

Agarrar com unhas e dentes qualquer tentativa de chance. Só existiriam as oportunidades que eu mesma criasse. Me ensinaram a batalhar até o fim. Nunca achei que tinha o mundo aos meus pés. Me submeti ao trabalho pesado, as formas tortuosas, ao que fosse necessário. Minha mãe me fez indignada. Batalhei até pelo mais simples elogio.

Mas o que ontem eu considerava preguiça, hoje considero diferente. Pessoas que hoje são pais, tentaram dar aos seus filhos todas as oportunidades que não tiveram. Uma tentativa de encurtar caminho pra chegar mais longe.

E sem querer, aconteceu um efeito estranho..a tal falta de treinamento. O erro foi nosso.