26 de agosto de 2010

249

Eu deveria estar aqui fazendo uma prestação de contas de diárias atrasadas, ou escrevendo uma carta a um advogado explicando porque não tenho culpa, mas enfim, como não ando em linha reta, vou pelas beiradas que parecem menos importantes, porque...são reveladoras.

Vou para as reuniões, olhar para as pessoas que quase não falam, onde mora a reflexão. Comunicam sem emitir som, pra si...fico ali, observo, sou boa nisto.

A coisa mais linda do mundo é descobrir que não existem pessoas iguais, me irritam as comparações superficiais. Onde te colocam um escore, criam uma tabela, tabulam idéias. Não vêem nada que não fique no foco. Existe uma beleza fundamental, que ultrapassa aquilo que te é familiar. Ultrapassa até mesmo o que te faz bem. Como vibrar a meio palmo do chão sem barreira de proteção.

Sim, nem sempre existe alguém pra te proteger..

O que se procura não é quem cuide, mas quem tente enxergar por um dos 359 graus esquecidos. Porque te ensinaram, que pra fazer amigos, melhor dividir as mesmas idéias. As pessoas são treinadas pra isto, pensar pelos mesmos caminhos.

Amo idéias, e por isto amo pessoas. Acredito em vocação, em talento. Mas acima de tudo o que se faz na vida pra idealizar este caminho. Um talento desperdiçado, é como negar um presente dado de coração, uma arma natural pra enfrentar o mundo. Negar isto é a maior heresia cometida contra si.

Gosto de pensar que conheço o talento especial que todos têm, e que não tiveram paciência pra se descobrir. Gosto de pensar que é por isto que batalho. Pra que todos sobrevivam com as armas de bandeira branca.

Não era nada disto que eu ia escrever, mas caiu bem..e é um dos 360 lados das minhas possibilidades. Se percebeu ou se deixou passar, um dia.....um dia...um dia...passou sem olhar, que pena.

Viveu menos do que podia..

16 de agosto de 2010

248

Sempre soa melhor escrevendo pra alguém. Então é pra você: Como posso fazer perceber os interesseiros se você se apresenta como um deles? Tudo tem preço. Ou se paga muito por uma vida ou pouco pelo momento.

Sonhei que estava em maio de 79 com a idade que tenho agora. Pensei em olhar com carinho aqueles que perdi sem assustá-los. Foi incrível... e que alguns que amo nem existiam.

Presa na minha verdade não compartilhada. É assim, saber que não voltam. Os que foram Por Destino ou os que foram por escolha. Um livro aberto só pra frente, no que está em construção.

É a minha história. Parte nas páginas do início ou do meio, do lado esquerdo, com meus sonhos impossíveis. O que fica.. o melhor, me acompanha.

Viajei no tempo. Foi a primeira vez.

2 de agosto de 2010

247

Oi vó,
Estou aqui ouvindo a trilha do Paciente Inglês, terminando o feijão que deixei de molho ontem. Fazia tempo que não cozinhava, mas de repente bateu aquela vontade de comer o feijão que fazia e que tu tanto gostava. Regado a vinho sim, porque também fazia parte do cardápio. O Ruan mia, Tina deitada do lado, e o cao...sumiu..deve estar no quarto..nada..na mesinha da entrada, como se fosse enfeite. Coloquei todas as coisinhas que tu gosta no feijão, mas talvez eu exagere na pimenta que me acompanhou a Joanesburgo, e que hoje, bateu vontade. Tu estava lá comigo, eu sei, sentia. Nunca esteve tão presente. Sempre que ligava pra casa, me dava uma vontade instantânea de perguntar por ti, sem me lembrar que na verdade, tu viajou comigo. A Beth falou pro Regis que te viu subindo naquela hora que tanto tinha medo. Foi pro céu, com toda história que às vezes era demônio. Foi feito anjo, porque assim vão as senhoras de 97 anos. Precisa de coragem para os 97. Coragem e vontade, que eu mesma acho que não tenho. Alguém pra viver até ai. E eu fazia parte desta vontade. Pode rir, mas fiz o feijão com água com gás! Era o que tinha! De resto só faltou o louro...que tu levava pra mim e deixava secando num pote da cozinha. A cozinha mudou, agora é menor. As pessoas aqui preferem comer fora, não sabem que cozinhar é terapia. Fazem cozinhas do tamanho do afeto do arquiteto, que burros! Fazia tempo que não experimentava isto. Tinha, cansado, desistido. Mas, lembrei de ti. E vou levar comigo, mesmo sem jeito, do meu jeito, do nosso jeito. TIM TIM.

Agora a casa cheira a feijão, tão familiar, que bom.