Sabe, relutei muito pra
escrever este post. Me perdoem os erros, decidi que seria assim, feito um
vomito. Fui lá agora pegar meu gato Cao que miava alto do nada. Já fez isto
muitas vezes, enfiei ele no ombro e trouxe pra cá, feito um pacotinho. Ele ronrona,
porque é isto que ele espera que eu faça, salve ele do nada. Trago pra cama do quarto e começo a escrever.
Meu último ano foi muito
difícil, algumas pessoas sabem, outras preferiram se manter a distância. Não
estou aqui pra questionar nada nem ninguém, falo de sentimentos. Doenças e a
falta de tempo preencheram 98% da vida. Quando vi minha companheira dos últimos
16 anos definhando, junto com meu gato Ruan Disney as pernas simplesmente
amoleceram, como num filme. O coração começou a bater descompassado e a doer.
Não era porque estava partido, era dor mesmo. Eu não respirava, eram curtos
suspiros. faltava ar.
Não escolhi ser forte, acho
que ninguém escolhe, simplesmente não existe pra onde correr. Você tem de
ficar, até o fim.
em 2013 fui invadida, por
problemas renais, doenças da pulga, do carrapato, ferimentos por estresse,
acordar 4h30 da manhã, ver alguns se distanciarem, outros se aproximarem. VIDA!
é assim. Aprendi a dizer adeus aos poucos. Entendi que o processo era
inevitável, mas a gente nunca espera que termine.
Na última terça fui na
veterinária visitar minha cachorra, trouxeram ela pra mim, fiquei soznha num
banquinho de madeira conversando, beijei muito, disse o quanto amava, que ela
fosse em paz, que estava tudo bem. Minha avó estaria esperando com guloseimas,
e que a gente um dia se encontrava. no outro dia, fui lá de novo. Sim, poderia
chorar, gritar, desesperar…longe, nunca perto. Ela tinha piorado, a respiração,
mais ofegante que nunca, desta vez foi dentro da clínica, não dava mais pra
traze-la pra fora. meia hora, beijando. É como se uma onda de paz, tivesse
passado por mim não queria mais dizer nada apenas abraçar, enquando fazia isto,
ela dormiu nos meus braços. Fui pra casa e dormi bem pela primeira vez em dias.
Acordei às 7h com o telefonema da plantonista da clínica, avisando que tinha se
ido…nos dissemos adeus e até breve, muitas vezes. Vai em paz minha filha! você
foi minha companheira de todas as horas. Veio em fevereiro de 2010 pra ficar comigo,
e se sentiu em casa, mesmo estando num apart hotel distante. Estava em casa
porque estava comigo. E assim foi.
Tão pouco tempo depois, na
terça seguinte, me vejo na mesma situação, com meu gato Ruan, Ruan
Disney..problema renal crônico. Convivo com isto há 5 anos. Desde um pouco
antes de sair de Porto Alegre. A vida tinha se tornado uma montanha russa, de
internações, remédios, soro..me tornei ma consumidora voraz de remédios e
tele-entregas 24 horas. E os remédios que não encontrava? Nossa! conheço todas
as farmácias hospitalares de POA ao RJ. Conseguir soro ringer lactado por
exemplo, é uma façanha..sim, eu aplicava em casa. Construi com uma luminária,
um daqueles suportes de soros hospitalares. Tremia a mão cada vez que
aplicava…acho que vivi os últimos tempos tremendo. Medo! sim, medo!
Ontem fui na clínica, fui mais
uma vez obrigada a interná-lo. Em casa ele não comia, eu na minha tremedeira,
ia pro mercado e comprava 5, 6 tipos diferentes de carne pra tentar fazer ele
comer, e nada. E carne era a última coisa que ele poderia comer! Um dia a
veterinária disse, dá qualquer coisa, desde que ele coma….sim passei meses, com
medo que ele não comesse..até que um dia ele resolveu fechar a boca pra sempre.
Não ronronava mais, estava
esquelético e apático há vários meses.
…..
Fui pra clínica mais uma
vez, ele virado pra parede, era assim que ficava quando estava puto..afaguei,
falei, fiz de tudo. Fui ao mercado e comprei a melhor e mais macia carne, sabia
que era a última tentativa. Nada, nem cheirava.
Peguei nos meus braços e conversei
longamente, bem como tinha feito com a Tina 4 dias antes. Ele ronronou pela
primeira vez em meses, muito! conversamos, até que na dor do corpo doente, e
minha dor da alma, dormiu. Fiquei assim, sem saber se o que tremia era eu ou
ele. Acho que os dois. Só repetia, não fica com medo! Não precisa, vai dar tudo
certo, tentando convencer a mim também! Depois de um tanto me levantei, botei
ele na gaiolinha, ele miou alto, reclamando. Mais uma vez virou de costas pra
parede deixando claro o desgosto.
Sabia que teria de tomar a
decisão, passei muito tempo tentando aceitar isto. Roberta liga da clínica.
Tinhamos duas opções, transfusão, que na verdade só prolongaria um pouquinho
mais, e eutanásia. Só me sairam algumas palavras naquele momento: Tô indo praí,
colocar meu gatinho pra dormir.
Uma angústia, quando chegou
o momento, quem estava ali era a Nefrologista que faria o trabalho. Não falamos
nada. Fui até a gaiolinha e disse: a gente vai se encontrar de novo, enquanto
isto fica bem meu gatinho. Repeti várias vezes, ele ronronou bem baixinho, nem
piscava mais. Deu o sonífero, e ele pelo menos passou a respirar melhor.
-Acho que ele morreu
silvia,
-não ainda não.
Dei meu último beijinho,
olhei mais uma vez aquela pintinha linda que tinha no queixo.
-Quer ficar pra última
dose?
-Não!
Ela veio me abraçou e é
claro, chorei muito, agradeci a todos, não é fácil pra ninguém. Tenho certeza.
Fui pro carro e ali fiquei
por um bom tempo. A primeira pessoa é sempre a minha mãe. Mulher forte! Só
queria que ela soubesse que eu tinha conseguido ser forte também. Xixa mandou
mensagem, contei pra ela. Ela então me mandou uma foto dos filhos, que adoro!
-Uma foto pra ajudar a
espantar a dor.
Fiquei dando voltas de
carro, coloquei as pernas no mar e ali fiquei, pensando no dia lindo.
As duas coisas mais
comoventes que ouvi vieram do meu irmão, quando contei sobre a Tina. Agradeci
aquela última viagem de carro, 4000 quilometros, em que ele topou nos levar pra
Porto Alegre, uma indiada..uma bela história.
Ele só disse:
-Que bom que deu tudo certo
né?
-Sim deu tudo certo, mais
uma vez fizemos o que deveria ser feito..
Da minha mãe:
-Eles te ajudaram a crescer
bastante, podes ter certeza que fizeste o correto, a morte é muito melhor do
que o sofrimento, demonstraste ser muito forte com tuas atitudes na perda dos
teus companheiros.
Mãe, eu não tive escolha!
pensei eu..
Hoje fui buscar as cinzas
da tina e mandei cremar ruan. Agradeci poder trazer eles de volta pra junto de
mim, porque era isto que eles queriam. Sempre digo, que o grande desejo da tina,
era entrar dentro de mim, literalmente! É assim quando a gente ama
desavergonhadamente, sem parâmetros!
Agora, nunca me perguntem
porque eu não quis ser mãe, porque adotei, criei, cuidei por anos a fio, de
seres que sequer falavam. Sim, eu fui muito mãe, sabendo que um dia provavelmente
iria enterrar os meus filhos. E assim foi. Acho que as pessoas tem muito a
descobrir sobre o que é amor incondicional. Eu também, mas asseguro, tenho
medo..mas aprendo rápido.
Em algum sonho, eu tinha
palavras muito mais bonitas pra dizer, talvez eu lembre. Só queria desprender
da garganta este engasgo…
Doei todos remédios pra a
clínica, eles ajudam muitos animais de rua, e deixei pra Roberta, a médica oficial
dos meus filhos, um livro de um ingles que com a ajuda de um gato de rua,
conseguiu ficar limpo das drogas. É o livro mais vendido na inglaterra.
Todos que tem animais, vão
ter histórias lindas pra contar. Eu tive e continuarei tendo as minhas.
No fundo sei que o destino
da tina e do ruan sempre estiveram ligados.. do início, e como vocês viram, até
o final. Sim, até mesmo um gato e uma cachorra se completam! Um dia conto esta
história. É belíssima!! Grande beijo,