12 de janeiro de 2013

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Não preciso citar as razões, porque cada uma tem a sua, e todos com seus motivos, e todos legítimos. Até colocar os óculos pode ser uma forma de fugir da solidão. É uma forma de participar mais ativamente do mundo, perceber melhor. Muito provavelmente amar, é a forma mais conhecida de fugir da solidão.

Nunca decidi não casar, o que decidi foi não trocar minha liberdade por qualquer pequeno pedaço de ilusão de não sofrer de solidão, sutil diferença. Já encontrei quem me completasse, mas numa lógica em que não podemos ser amadores, não completei..e assim foi, quando completei, não me sentia completa, e a gente passa a vida tentando terminar nossos álbuns de figurinhas. 

Gente “solitária”, e na minha opinião 99% dos solteiros, casados, cheios de amigos, com filhos, sem filhos, bicho, população de uma ilha deserta ou de uma grande metrópole, deveria perceber: Entender e aceitar a solidão poderia te fazer uma pessoa melhor. 

Vou falar de mim, o tipo mais comum, a que ficou pra tia, ou como queiram chamar neste doce joguinho preconceituoso de ver a vida. Não escolhi viver sozinha, escolhi foi não me vender, e sim me doar. Não troco o pagamento do condomínio no final do mês por um beijinho. Escolhi dar um beijinho por um abraço, por outro beijinho, por um amor, por compreensão, até por uma cisma, nunca por uma coisa, mas por sentimento que de fato exista, não pra afugentar minha solidão, mas por amor. 

Com o tempo descobri que nem sempre as trocas eram possíveis, dar nem sempre era a garantia de receber. A necessidade foi mais adiante. Era infinitamente mais importante e recompensador dar sem receber do que não oferecer nada sabendo que não existiria a troca. E não sei se me fiz entender, já não estamos mais falando de casamento, estamos falando de tudo! Eu caso com a cidade onde vivo, bichos, ideias, pessoas....ou melhor, com a forma de se relacionar tudo. 

Sim, sou solitária mas me relaciono. Sim, escolho com o que vou me relacionar, porque vou doar este tempo e fazer valer a pena, não apenas colocar na minha listagem de coisas que possuo. Não conheço nenhuma forma mais poderosa de amor do que doar tempo. 

Na vida, descobri que pessoas conscientes da sua solidão, são as que mais valorizam a verdadeira companhia, porque não tem sempre nem todo dia. 

Acho que o mais duro da solidão, é saber que não sou prioridade. É ai que a solidão faz crescer, ser mais humilde, deixar ligada a sintonia fina 24 horas por dia, não passar o rolo compressor sobre tudo e todos. Valorizar cada detalhe, observar. 

Pensando melhor acho que não escolhi ser assim, fui assim desde sempre. Mas na idade adulta ser assim ou assado é uma opção, principalmente quando a gente toma pé das escolhas que faz, e das razões pelo que faz. 

Já vi muitos se tornarem vítimas da sua personalidade, mas me desculpe, o melhor da idade adulta é te dar condições e opções de administrar o que te incomoda, o que te faz feliz, as tuas prioridades. Engraçado, a minha prioridade nunca foi ser prioridade pra alguém, apesar de ter as minhas bem claras e não tão óbvias. Sou aquela que não vai deixar o amigo na mão. Talvez seja só uma tática suicida ou uma idiotice, mas nunca tive insônia por fazer o que não acredito...Talvez lágrimas, mas nunca o arrependimento. 

Continuo me relacionando com o mundo independente do grau de parentesco

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