21 de setembro de 2013

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Texto da Zero Hora de hoje. 

*J.J. Camargo é cirurgião torácico e chefe do Setor de Transplantes da Santa Casa de Misericórdia e presidente da Academia Sul-Rio-Grandense de Medicina (ASRM)

Provavelmente a mais inevitável das solidões é a dos poderosos. Toda tomada de decisão que resulte em algum impacto na vida dos outros implica um exercício de poder, e este é tenso, muitas vezes doloroso, e sempre solitário.

Desta forma insuspeitada de sofrimento estão livres todas as pessoas que se limitam a seguir as recomendações, sem nem o compromisso de questioná-las.

Mas de qualquer forma a grande massa é formada por seres gregários que, desde sempre, buscam a interação com seus semelhantes. Os primevos já faziam isso para se proteger e para procriar. Mas afora estes instintos mais elementares, a busca do outro para a complementação de objetivos e realização de anseios de felicidade, sempre marcou o comportamento da raça humana. 

Mas não se pense que a solidão é sempre perniciosa. Não, muitas vezes ela é ótima, e outras tantas indispensável.

Muitas pessoas, vitimadas por relacionamentos opressivos, castigadas por parceiros dominantes, só têm chance de recuperar a identidade perdida ou atropelada, se lograrem um período de isolacionismo, que permita a reciclagem dos seus valores e a redefinição de suas metas e objetivos de vida.

Por outro lado muitos indivíduos vivem solitários e não se queixam disso. Pelo contrário, se lamentam da falta de sossego quando, por alguma circunstância familiar, são obrigadas a um convívio que lhes parece invasivo e ruidoso.

Outros estão sempre rodeados de multidões de amigos, muitos transitórios e fugazes, num renovar de afetos que sugere mais carência afetiva do que capacidade ilimitada de conquista e sedução. 

Mudou a sociedade que se tornou mais egoísta e competitiva, mas sempre existiram e existirão amigos sinceros, entremeados com os oportunistas, que podem parecer bons companheiros, mas serão desmascarados quando surgir a primeira adversidade e com ela a necessidade da primeira ajuda. 

A nossa juventude parece menos afeita ao relacionamento afetuoso e se empenha na interação virtual que nunca se materializa, tentando compensar a falta de ombros calorosos e fraternos, com monitores coloridos mas insensíveis. Uma pena que não se consiga colocar afeto numa tela, mesma que ela ofereça o fascínio da tri-dimensão. Mas a garotada, com certeza se recuperará. E tomara que não gastem tanto tempo para descobrir que nenhum software conseguirá substituir a magia do abraço.

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